Veneza é uma cidade que não deve estar de fora de seu roteiro de viagem. No entanto, gostaríamos de deixar aqui algumas impressões de nossa passagem pela cidade que nos fez refletir sobre a Veneza quotidiana e a Veneza mascarada que nos pareceu, infelizmente, a predominante nos dias de hoje. Quando visito uma cidade, nem sempre são os maiores pontos turísticos aqueles que me atraem. Existiam tantas belas minuciosidades e detalhes escondidos nas diversas ruas estreitas e pontes da cidade que me pareciam passarem desapercebidos pelo olhar da maioria dos turistas. Qual seria, afinal, a Veneza vista por aquela imensa massa falante de turistas em grupos, com mídias auto-explicativas e máquinas fotográficas que mais pareciam metralhadoras a registrarem cada poste da cidade? Comecemos pelos restaurantes. Um capuccino no balcão de um café na Piazza San Marco custa €1,80. Mas se você decidir sentar… meu conselho é de que você não sente nem que um elefante tenha quebrado suas pernas! Uma sentadinha para tomar seu capuccino com calma pode se transformar em um verdadeiro pesadelo e a conta pode chegar a €20, SÓ porque você, turista, resolveu se sentar. E a cidade assim se encontra: restaurantes caríssimos com simpáticos atendentes que falam vinte línguas, preparados para te sequestrar para dentro do restaurante e te servir um bom prato italiano feito na hora… Sim na hora, não leva nem 10 minutos para seu prato ser esquentado no microondas e servido. As ruas próximas aos principais pontos turísticos encontram-se repletas de lojas de souvenirs com gôndolas, máscaras e o famoso murano que, até em formas extraterrestres podem ser encontrados e, para quem comprar? Pra você, turista trouxa que é, que paga €40 num murano horroroso que nada tem de artístico, vendido na banca de um dos milhares de chineses que estão tomando conta do mercado turístico da cidade. Gente, dá vontade de dar um pedala nesse pessoal… wake up people!!! Veneza é muito mais, muito mais do que isso.
Caminhando pela orla da cidade eu, como sempre, faço raiva no Rafael com minha insistência em ver o que ele chama de “artesanato local”. Não posso ver, muito menos, os desenhos e pinturas das cidades que visitamos, que fico louca. Claro, haviam ali diversos artistas talentosos e, em meio a muitos deles, um me chamou a atenção pela maneira que retratava a cidade em seus desenhos. Aquilo era arte de verdade! Me mantive a uma certa distância, suficiente para não incomodar o artista e suficiente para que eu pudesse admirar seu trabalho. Observando meu falatório e admiração, esse simpático senhor de chapéu nos chamou para mais perto, dizendo que ele não tinha costume algum de morder aqueles que paravam diante de sua banca.
Assim, nos aproximamos, e tivemos a grande oportunidade de conversar com esse artista nascido e morador de Veneza que, por quase uma hora, satisfez diversas de nossas curiosidades sobre a cidade e suas peculiaridades, verdades e mitos. Sempre com alegria e senso de humor, Baldan Fabio e seu filho nos deram ainda diversas dicas de onde se pode ir para conhecer a verdadeira Veneza e onde se pode comer bem, pagando pouco e saboreando a culinária local. Assim nos despedimos (obviamente não pude deixar de adquirir uma de suas lindas obras) e, após mais um giro pelas ruas, nos encaminhamos para o restaurante chamado Rivoleta. Nesse pequeno restaurante localizado sob uma ponte, encontramos um pedacinho da verdadeira cidade. A começar pelo dono do restaurante, que permanecia no balcão ao lado da porta, sempre brincalhão e sorridente, saudando a todos que entravam e oferecendo aperitivos como vinho para aqueles que, como nós, aguardavam por uma mesa. O clima era de descontração, os clientes eram na sua maioria locais, gondoleiros, poucos turistas. Assim o restaurante era dominado pelo alto e típico falatório italiano. Coincidentemente, lá estava nosso artista Baldan, que almoça todos os dias no mesmo restaurante e, gentilmente, nos ofereceu sua mesa para os sentarmos. Os senhores que nos atendiam pouca cerimônia tinham e segundo Rafael era tão pouca a cerimônia que quem não está habituado com esse trejeito veneziano pode pensar que se tratava de falta de educação, mas não. Me senti tão à vontade, que este deve ter sido um dos melhores restaurantes no qual estivemos. Boa comida, falatório, brincadeiras e descontração.
Nossa dica para os que ainda virão à cidade: se joguem! Não se atenham apenas às grandes catedrais e museus. Conversem com os locais, conheçam sua história, penetrem nas ruas mais estreitas e menos povoadas da cidade, provem o verdadeiro sabor da culinária local… Se permitam, se percam e se encontrem nesse lugar tão mágico e sutil que é a cidade de Veneza.
Para conhecer o trabalho de Fabio Baldan:
http://www.fabiobaldan.it
